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SWEET & ROMANTIC SURREY

por sopa-de-letras, em 27.07.18

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https://goo.gl/maps/ZigRrnycVxw

 

Uma década da minha vida e muito mais, fica no Surrey.

Vou partir para o condado aqui ao lado, Middlesex, mas não é a mesma coisa.

Não conheço os 47 condados de Inglaterra, mas daqueles onde já estive, o Surrey é, sem dúvida, o que mais me agrada para viver. É a província colada á capital. Começa logo ali, do lado de fora da M25 e tem características únicas.

Dentro do meu coração, o Surrey está para Inglaterra como o Alentejo está para Portugal.

Nao é em vão que costumo chamar a este lugar onde ainda vivo, o meu monte.

Dizem que, na vida, nada acontece por acaso, e eu acredito. Talvez o facto de viver neste lugar, tenha sido a única forma de eu poder suportar todas as mudanças bruscas e violentas que se deram na minha vida nos ultimos treze anos. Agora que o mar serenou, (digo eu que nada sei, e até disso duvido), a brisa leva-me para outro lugar.

Apenas uma curiosidade: Foi no Surrey que descobri que existem periquitos no Reino Unido, coisa que me surpreendeu bastante.

Uma bela manhã acordei com um chilrear diferente do habitual, uma gritaria, fui ver o que se passava e vi que a minha macieira tinha mais periquitos verdes do que maçãs maduras.

Então fui investigar e descobri que existe uma colónia de mais de 30.000.

Os indígenas nao gostam deles, porque lhes alteram a fauna e a flora, mas eu acho-os lindos.

https://www.telegraph.co.uk/news/earth/wildlife/11418593/Ring-tailed-parakeets-are-flying-beyond-our-control.html

 

http://devoralondres.blogs.sapo.pt/66233.html

 

https://seisanosdepois.blogs.sapo.pt/adaptacao-219219

 

 

 

PS: Quem sabe um dia a vida, simpática e bem disposta, decide trazer-me de volta para o Surrey, ou para o Alentejo em Portugal, ou para o Sertão no Brasil...

 

 

 

publicado às 05:39


O MAR ESSE DESCONHECIDO

por sopa-de-letras, em 21.07.18

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Nao sabia que o mar  existia.

Nunca lhe sentira o cheiro.

Nunca o vira desmaiar, mansamente, na areia.

O sol...esse sim. Eram amigos.

Todas as manhas ele surgia risonho na linha do horizonte.

No final de cada dia, ia atras do monte, junto ao muro do curral onde o gado se acoitava, para se despedir do sol.

Ali ficava parada, observando aquela roupagem avermelhada que ele sempre punha antes de partir.

Dizia baixinho : Adeus sol, volta amanha por favor. Logo a seguir ele escondia-se, ao longe, por detras da Igreja da Se, la na cidade.

O seu mar era a seara. Por vezes a seara ondulava, tal e qual como o mar que ela nao conhecia. Em vez do ar fresco da maresia ela sentia entao uma onda de ar quente, quase sufocante.

A seara nao dava peixe como o mar, mas transformava-se em pao. O tal pao que deveria pesar um kilo, mas nao pesava.

Quantas vezes ela vira as freguesas olharem desconfiadas para a balanca. Entao ela fazia como a mae lhe ensinara...encostava um pao, do dia anterior, ao corpo que dancava dentro da bata branca da mae a dar-lhe pelos tornozelos, e cortava um naco, a olho, para completar o kilo de pao.

`As vezes, mesmo com o contrapeso ainda nao chegava ao peso obrigatorio. As freguesas nao perdoavam, sem se sensibilizarem com as suas maos pequeninas agarrando a faca grande e o pao duro, e la lhe atiravam: Tao pequena e ja sabes roubar. Os tempos eram dificeis, e quaisquer dez gramas de pao eram importantes, por isso ninguem queria saber, se tinha sido por dificuldade que o naco saira pequeno.

O pao que a mae vendia na padaria, menos quando estava a tratar do mano que era recem nascido. Nessas alturas era ela que vestia a bata e vendia.

O tal pao que devia pesar um kilo mas nunca pesava, vinha da seara, e a seara era o mar.

Por volta dos seus nove anos conheceu-o. Foi amor `a primeira vista. Ficou embevecida a admira-lo.

Por mais que tentasse imagina-lo, jamais sonharia que ele impusesse tal grandeza.

O mar era imenso !

 

Pedacinhos de infancia

Maria V. Letras

 

 

 

publicado às 22:58


OS MEUS LILIS CHEGARAM ANTES DA HORA DA PARTIDA

por sopa-de-letras, em 19.07.18

A vida é feita de mudanças.

Mudamos de crianças para adolescentes, de seguida mudamos para adultos; mudamos de penteado, mudamos de modo de vestir, mudamos de estilo, mudamos de país, de cidade, ou de casa; mudamos de escola ou de emprego; mudamos nos corações das pessoas, deixamos de brilhar em alguns e passamos a ser aconchegados noutros; mudamos de pensamentos e até de sentimentos. Tudo muda.

A mim todas as mudanças me afligem, sobretudo as mudanças de pessoas ou de lugares, simplesmente porque sei que vou deixar para trás pedaços de mim. Cheguei ao mundo inacabada, mas completa, mas tenho a sensação que chegarão á morte, apenas alguns pedaços de mim, porque parte deles já ficou pelos caminhos.

Quando chego, de armas e bagagens, lanço a ancora e prendo-me como se fosse ficar para o resto dos meus dias. De repente desaba uma tempestade e lá vou eu.

Não me lamento, cada qual tem a sua sina, e a minha é assim.

Apenas me parece um pouco estranho, porque tendo nascido em plena planície, e tendo raízes profundas naquela terra abençoada, nao sei porque carga de água tenho que andar sempre com a casa ás costas, e tão longe daquele raro ar, puro e quente, que no verão me arde nas narinas.

Habituei-me a plantar flores e árvores quando chego, e vou deixando flores e árvores por onde vou passando.

Desta vez parto levando no peito uma amalgama de sentimentos. Nesta casa aconteceram-me, ao longo de nove anos, coisas muito boas e coisas terríveis. Chegamos a ser seis pessoas a viver aqui, e cheguei ao ponto de ficar completamente só dentro duma casa enorme, sendo que três dessas pessoas já partiram.

Aqui, dentro destas paredes, fui de um extremo ao outro de quanto é possível um ser humano viver de bom e de mau.

Vou partir...não porque quero, mas porque tem que ser.

Este verão, pela primeira vez, as parreiras vão dar uvas. A minha figueira está carregada de figos, O loureiro está enorme.

Saio no fim do mês, não vou ver nada maduro.

 

Apenas os lilis não quiseram que partisse sem me dizerem adeus.

 

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publicado às 21:17


AS VOLTAS DA VIDA

por sopa-de-letras, em 14.07.18

ATELIER

 

A vida é feita de mudança.

Já cansada de tantas andanças ela reparava, com um certo grau de desagrado,  que para o fugir á regra, mais um capítulo se encerrava, e um novo já se desenhava no horizonte.

Não planeara e nem sequer desejara palmilhar esta estrada, mas as coisas são como são e não como desejamos.

Naquele seu jeito, tão peculiar, de aceitar com boa vontade tudo o que a vida lhe trazia, mais uma vez se autoconvencia de que, se assim aconteceu, é porque certamente havia algum motivo que a sua compreensão não podia alcançar.

Depois de tantos anos a viver naquela casa onde tanta coisa acontecera, ia ter que partir.

De início, tomar consciência disso, havia sido terrivel. Mas pouco a pouco lá foi explicando a si propria que esta era , de facto, a melhor decisão.

Animada pelo facto de não estar sozinha e de ir ter um novo espaço, que mesmo não se comparando com o actual, não deixava de ter , aspectos positivos, lá se decidiu e começou a empacotar cada recordação envolvendo nela, lentamente, o respectivo objecto.

publicado às 21:42