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AQUILO FERIU-ME

por sopa-de-letras, em 01.09.16

O meu olhar espantado cruzou o olhar atrapalhado do homem, por algumas fraccoes de segundos ficaram presos um no outro e entenderam-se.

Oito horas da manha, primeiro de Setembro do ano de 2016, cidade de Staines-Upon-Thames, Inglaterra.

Dirigia-me ao emprego, ao volante do meu carro, bem disposta, completamente embrenhadda no meu Alentejo ( a mais de duas mil milhas de distancia ) , levada pela voz do Vitorino, que cantava qualquer coisa sobre a " escravidao " do tempo do fascismo naquela regiao do meu pais.

De repente algo me atingiu. A visao de um cartaz andante, fazendo publicidade a um certo restaurante, surgiu deslocando-se na minha direccao. Para alem do cartaz apenas se via a cabeca e o rosto dum homem, e os pes.

O que `e isto? Pensei.

Ja vi muitas vezes, nas Hight Streets ( ruas de comercio, normalmente sem transito automovel ), gente com cartazes e a espalhar panfletos, mas um cartaz andante ainda nao tinha visto.

Quanto pagarao aquele homem, para se levantar da cama e vir andar pelas ruas da cidade, com um cartaz pendurado ao pescoco, no sentido contrario `a direccao dos carros, para que os condutores sejam obrigados a ver a publicidade?

Quantos miseros pennies?

Eu sei que ha trabalhos desagradaveis que alguem tem que fazer como, por exemplo, limpar a porcaria que os outros fazem.

Mas sera este trabalho necessario?

Provavelmente, em algum sofisticado brainstorm ( chuva de ideias ) surgiu esta brilhante ideia.

Pois eu acho que todos os participantes deveriam ser obrigados a percorrer toda a ilha, cada um com seu cartaz ao pescoco, mostrando a seguinte frase : " Eu sou um idiota " .

O olhar do homem disse-me : " se eu pudesse nao estava aqui " .

Fosse pela hora do dia, fosse pelo facto de estar a ouvir uma cancao que falava em escravidao, enfim...fosse la pelo que fosse...aquilo atingiu-me e feriu-me.

 

 

publicado às 08:42